O Programa "Farinheiras no Litoral do Paraná" tem
por objetivo promover ações que articulem ensino, pesquisa e extensão junto a
pequenos agricultores familiares produtores de farinha de mandioca no litoral
do Paraná com o propósito de garantir sua permanência no campo e a manutenção
da cultura local expressa na arte de fazer farinha. Para que tal objetivo seja
alcançado faz-se necessário realizar ações de extensão relacionadas a produção
da mandioca, matéria-prima, a agroindustrialização e a comercialização do
produto, ambas ações imbricadas no saber fazer, na cultura e arte de fazer
farinha. Portanto, o Programa pretende promover nas
comunidades de pequenos agricultores familiares um espaço de reflexão e
discussão da realidade local, buscando o fortalecimento dos laços comunitários,
a autogestão do seu espaço produtivo e desenvolvimento das relações
institucionais; realizar ações que
objetivam eliminar os gargalos que os agricultores familiares produtores de
farinha de mandioca enfrentam para comercializar seus produtos em mercados mais
organizados; realizar atividades relacionadas a práticas ambientais e
agroecológicas de produção relacionadas a matéria-prima e as agroindústrias de
farinha de mandioca, bem como contribuir para o resgate e o fortalecimento da
cultura local.
JUSTIFICATIVA:
O
litoral do Paraná foi a primeira região do Estado a ser colonizada. Porém, o
fato de ter sido colonizada há séculos, não significa que a região se
desenvolveu. Pelo contrário, o litoral paranaense é tido como uma região
deprimida economicamente e que apresenta sérios problemas econômicos, sociais e
ambientais. Andriguetto Filho e Marchioro (2002) e Estades (2003) afirmam que o
litoral do Paraná é uma das regiões mais pobres do Estado.
A
complexidade e heterogeneidade apresentada no litoral do Paraná dão origem a
uma forte contradição: de um lado, o valor da região como patrimônio natural e
para a proteção da biodiversidade e, de outro, um quadro de subdesenvolvimento
que não corresponde aos potenciais regionais.
A região, segundo Andriguetto Filho e Marchioro (2002: 159) “é marcada
por uma série de problemas de gestão do desenvolvimento e da conservação, com
graves conflitos fundiários, conflitos entre atividades econômicas, e entre
práticas humanas e proteção ambiental”.
O Litoral é composto por sete municípios que possuem uma
área física relativamente pequena, o que levaria o leigo a acreditar que é
simples compreender sua dinâmica social, cultural, político-institucional,
ambiental e econômica. Ao contrário, como salienta Raynaut (2002) e Estades
(2003), a região apresenta-se extremamente diversificada e com elevada
heterogeneidade.
A
situação de pobreza está presente, com maior ênfase, no município de
Guaraqueçaba. O município, eminentemente rural, apresenta um Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,583, ocupando a posição 393 no ranking do
Estado e apresenta uma taxa de pobreza de 49,05%, ou seja, quase a metade de
sua população vive em precárias condições. É importante mencionar que a maioria
das famílias pobres reside no meio rural. A realidade dos demais municípios não
é animadora.
Entre os produtos cultivados pelos agricultores
familiares no litoral paranaense, pode-se afirmar que a produção de mandioca
atua como uma “atividade amortecedora” em dois aspectos: i) contribui para a
segurança alimentar das famílias no meio rural; e ii) apresenta-se como
atividade com potencial para gerar renda, podendo ser comercializada in
natura ou industrializada (farinha, mandioca chips etc.).
O Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão
Rural (EMATER) estima que um total de 1.194 agricultores cultive mandioca no
Litoral. As ações do projeto de extensão identificaram um total de 118
farinheiras, sendo 8 farinheiras comunitárias (DENARDIN et al., 2009).
Ao destacar-se a importância da mandioca para o
agricultor familiar no Litoral, não está se afirmando ou mencionando que a
atividade não enfrenta problemas. Estudo realizado pelo Instituto Agronômico do
Paraná (IAPAR), em parceria com o Departamento de estudos Sócio-Econômicos
Rurais (DESER), financiado pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e
Ensino Superior do Estado do Paraná (SETI), identificou um conjunto de gargalos
tecnológicos relacionados à agricultura familiar. Com relação à produção, foi
constatada uma significativa concentração dos problemas tecnológicos em quatro
grupos: pragas e doenças, baixa produção/produtividade, manejo e conservação do
solo inadequados, e melhoramento genético e/ou material propagativo inadequado.
Com relação à agroindústria familiar de pequeno porte, os gargalos foram relacionados,
também, em quatro grupos: matéria-prima, transformação, legislação e gestão e,
por fim, padrão de qualidade e comercialização (INSTITUTO, 2005; MARQUES et
al., 2006).
Para agregar valor ao produto in natura, muitas
instituições de pesquisa e extensão rural tentam incentivar a
agroindustrialização dos produtos da agricultura familiar. Entretanto, agregar
valor aos produtos via agroindustrialização apresenta uma série de desafios
para o produtor rural, principalmente no que se refere ao padrão de qualidade e
comercialização, como evidenciou o IAPAR e o DESER em seu estudo. Lundy et
al. (2004) apresenta, também, um conjunto de elementos caracterizados como
“problemática rural” que de uma forma ou outra estão presentes no meio rural e
mostram a fragilidade da agroindústria familiar:
- enfoque na produção ou na comercialização, porém não no
mercado: na zona rural, a maioria dos produtores tem um enfoque direcionado a
produção e comercialização de seus produtos. Isto quer dizer que sabem produzir
e vender seus produtos, porém não sabem identificar os sinais de mercado.
- organização empresarial fraca e incipiente: as
agroindústrias rurais são, em sua maioria, falhas em termos de gestão. Possuem
capacidade limitada para identificar e analisar pontos críticos em suas cadeias
produtivas e, portanto, encontrar estratégias ou ações chaves para melhorar seu
negócio;
- tendência ao
individualismo em vez de buscar a competitividade setorial: diante da incerteza
que caracteriza o setor rural, é normal que os atores busquem soluções
individuais de curto prazo em vez de pensar iniciativas que promovam a
competitividade do setor no médio e longo prazo. Isto se traduz em relações de
pouca confiança entre os agricultores e uma capacidade limitada para assumir
iniciativas estratégicas;
O fraco conhecimento, por parte dos agricultores
familiares, sobre a identificação de mercados potenciais, visão de cadeia e
principalmente agregação de valor ao produto dificultam sua sobrevivência no
meio rural, principalmente em um momento da história em que os mercados
encontram-se cada vez mais globalizados.
Este programa, como mencionado, representa a continuidade
e, principalmente, o avanço nas ações já desencadeadas pelo projeto “Estudo da
cadeia produtiva da mandioca como estratégia para o desenvolvimento da
agroindústria familiar no litoral do paranaense”, financiado pela Secretaria de
Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado do Paraná (SETI)
através do programa Universidade sem Fronteiras e da PROEC, nos anos de 2008,
2009 e 2010.
Entre as 118 farinheiras visitadas constatou-se que
nenhuma possui autorização da Vigilância Sanitária, seja municipal ou estadual,
para operar. As farinheiras visitadas se encontram em situações precárias, seja
em termos de infra-estrutura, seja em termos da adoção de boas práticas de
higiene, organização e gestão. O não atendimento das normas estipuladas pela
Vigilância Sanitária não permite, em tese, que os agricultores comercializem
seus produtos na maior parte dos estabelecimentos comerciais, sejam eles locais
ou regionais.
Entre as
farinheiras que apresentam boas condições de infra-estrutura e que poderiam
atender as exigências da Vigilância Sanitária encontram-se as farinheiras comunitárias.
A presente proposta de Programa tem por objetivo continuar a assessorar grupos
comunitários rurais de produção no litoral paranaense, garantindo o funcionamento
das farinheiras comunitárias do Açungui (15 famílias) e da Potinga (20
famílias), ambas no município de Guaraqueçaba, e a farinheira do Riozinho (10
famílias) no município de Guaratuba. Além destas, outras farinheiras
comunitárias e individuais serão foco das ações de extensão do presente
Programa.
Importante
mencionar que as ações de extensão ora propostas se integram com outras
atividades acadêmicas do Setor Litoral, principalmente com o grupo PET Conexões
de Saberes – Comunidades do Campo e o grupo PET litoral Social que desenvolvem
ações de pesquisa, ensino e extensão. Articulam-se, também, os cursos de Gestão
e Empreendedorismo, Tecnólogo em Agroecologia e Gestão Ambiental, fundamentais
para que resultados sejam alcançados nas ações de extensão.
Portanto, as ações a
serem desencadeadas nas farinheiras comunitárias proporcionarão acesso ao
mercado para o produto, de forma a permitir a organização da produção em termos
de gestão, seja do processo produtivo, seja sob a forma de organização das famílias
em torno de um objetivo comum, contribuindo para melhorar a qualidade de vida
dos agricultores. Além disso, as farinheiras trabalhadas pelo Programa serão utilizadas como unidades de referência,
desencadeando um efeito demonstração para as mais farinheiras, sejam
comunitárias ou individuais.OBJETIVOS:
Geral:
Promover
ações que articulem ensino, pesquisa e extensão junto a pequenos agricultores
familiares produtores de farinha de mandioca no litoral do Paraná com o
propósito de garantir sua permanência no campo e a manutenção da cultura
local expressa na arte de fazer farinha.
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Específicos:
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Propiciar a articulação efetiva entre ensino, pesquisa e extensão através da
parceria com agricultores e produtores de farinha do litoral do Paraná, por
meio de práticas de produção ecológicas para os sistemas de produção de
mandioca (Manihot sp.);
- Promover
nas comunidades de pequenos agricultores familiares um espaço de reflexão e
discussão da realidade local, buscando o fortalecimento dos laços
comunitários, a autogestão do seu espaço produtivo e desenvolvimentos das
relações institucionais;
- Realizar ações
de ensino, pesquisa e extensão que possibilitem identificar e implementar
estratégias de comercialização para a farinha de mandioca produzida pelos
agricultores no litoral do Paraná possibilitando acesso a mercados mais
organizados;
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Realizar o resgate e o fortalecimento da cultura local da arte de fazer
farinha através da aproximação e integração das escolas rurais e comunidades
envolvidas com a Universidade – Setor Litoral.
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